Cresce nº de alunos superdotados, mas acesso a ensino continua restrito

Registros no MEC passaram de mil para 5,6 mil em 5 anos, mas a OMS estima que o País tenha até 2,5 milhões de estudantes com altas habilidades. Falta de informação e estrutura precária da rede educacional impedem desenvolvimento de talentos

05 de junho de 2010 | 0h 00

Bruno Boghossian - O Estado de S.Paulo

RIO

Apesar de o número de alunos superdotados registrados pelo Ministério da Educação (MEC) ter quintuplicado em cinco anos, passando de cerca de mil para 5,6 mil, apenas uma pequena parcela da população com esse potencial tem acesso ao atendimento especial, garantido por lei. A Organização Mundial da Saúde estima que entre 1,5 milhão e 2,5 milhões de alunos no País tenham altas habilidades em alguma área do conhecimento.

"O aumento do número de registros indica que mais alunos estão tendo acesso a condições melhores de atendimento e estimulação. No entanto, os dados mostram que os jovens com altas habilidades no Brasil não estão sendo identificados", afirma Bárbara Delpretto, da Secretaria de Educação Especial do MEC.

Uma resolução do Conselho Nacional de Educação determina que todo aluno com esse potencial tenha acesso a uma formação complementar em unidades de atendimento especializado, seja em instituições pública, particular ou filantrópica.

Educadores alertam que a falta de informação dos professores e a estrutura precária da rede pública de ensino formam barreiras que impedem o desenvolvimento de grandes talentos.

Uma das principais dificuldades é a identificação desses potenciais, uma vez que não só alunos com ótimo desempenho escolar são considerados superdotados. "A superdotação pode aparecer em qualquer área da habilidade humana ? desde o raciocínio abstrato mais complexo até o trabalho artesanal mais rústico", explica a doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense Cristina Delou. "O professor deve estar atento para identificar características como criatividade, raciocínio lógico e capacidade de aprendizagem, não só o desempenho escolar."

Atenção especial. Garantir atenção especial pode contribuir para o desenvolvimento dos talentos dos superdotados. Alunos com capacidades de raciocínio fora do comum e gosto pela matemática, por exemplo, podem ser encaminhados a cursos em instituições de ensino superior para terem contato com conteúdos mais avançados. Aulas de piano são indicadas para crianças com alta sensibilidade musical e a prática de esportes, para desenvolver a inteligência sinestésico-corporal.

"O atendimento especializado é um acompanhamento para que a criança possa desenvolver a área em que tem maior destaque e interesse, além de solucionar dificuldades naquelas em que não se destaca", diz a presidente do Conselho Brasileiro de Superdotação, Susana Pérez.

Ignorar esses potenciais, além de representar desperdício de talento e até de mão de obra especializada, pode desestimular a formação tradicional do aluno na sala de aula comum.

"Os alunos que se destacam não conseguem avançar em seu próprio ritmo porque há uma série de colegas que seguem mais lentamente", explica Cristina. "Muitas vezes, o superdotado fica entediado, perde o interesse, se desmotiva e até abandona as aulas."

De acordo com educadores, alunos superdotados de escolas particulares têm mais chance de receber atenção especial se apresentarem sucesso em áreas do conhecimento acadêmico, como bom desempenho em provas e concursos.

"Os colégios, em geral, não valorizam os atletas, os músicos e os líderes. Às vezes, se tornam até um tormento, porque a direção não gosta do movimento que eles lideram ou não tem um programa de esportes", avalia Cristina. No caso de outras habilidades, como as artes, os pais podem procurar atividades extra-classe para estimular os potenciais dos filhos.

Já na rede pública, os alunos podem ser atendidos em centros especializados ou salas de recursos multifuncionais, mas nem sempre esses espaços estão disponíveis ou têm vagas para todos. "As escolas públicas sofrem com outras questões que as ocupam de modo intenso. Não há salas ou material apropriado para o atendimento especializado ? e o aluno superdotado não aceita qualquer tipo de material. Ele quer mais", diz Cristina.



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