Deficiência Intelectual no contexto escolar
Marisa
Marzocchi Tomazzeto
Nossas
escolas mudaram bastante, temos um público muito diversificado nos seus
diferentes sentidos. No trabalho direto com a educação especial, o universo de
perguntas e respostas tem sido as situações de deficiência em salas de aula e é
logico, que a que mais sou solicitada é a apoiar o professor na deficiência
intelectual.
O que
mais os professores perguntam é se alunos com deficiência intelectual conseguem
aprender?
A
educação inclusiva parte do pressuposto de que toda pessoa aprende, sejam quais
forem as particularidades intelectuais, sensoriais e físicas. Mas, então, por
que alguns estudantes continuam não aprendendo? E no caso daqueles com
diagnóstico de deficiência intelectual, a tendência continua sendo alegar que o
“fracasso escolar” é decorrente da própria deficiência.
Historicamente,
as políticas e práticas pautadas nos paradigmas da segregação e da integração legitimavam
a exclusão de crianças e adolescentes com deficiência intelectual com base no
diagnóstico. A deficiência era, então, compreendida sob a perspectiva da área da
saúde, centrada em características individuais. Acontece que, na educação
inclusiva, a deficiência passa a ser entendida como uma variável contextual. Este
conceito entende que o ambiente, cultura, sociedade, enfim tudo que cerca uma
pessoa com deficiência, interfere neste desenvolvimento.
O assim
chamado modelo social de deficiência, difundido principalmente a partir da
publicação da Convenção da ONU em 2006, sobre os direitos das pessoas com
deficiência passou a considerar, além dos aspectos clínicos representados por
impedimentos na pessoa a fatores que são externos a ela como as barreiras
presentes no ambiente.
Assim, parte-se do pressuposto de que toda
pessoa aprende e compreende-se a deficiência a partir do modelo social, é
possível reconhecer que, na verdade, não são os alunos que não aprendem. A
escola é que, muitas vezes, não está preparada para lidar com a diferença e,
assim, não oferece estratégias pedagógicas que favoreçam a aprendizagem.
O que remete
a outras questões como quais as práticas pedagógicas mais adequadas aos alunos
com deficiência intelectual e também como garantir que esses estudantes
aprendam?
Durante muito tempo, acreditava-se que era
possível generalizar pessoas e, assim, padronizar estratégias terapêuticas (saúde)
e pedagógicas (escolares) a partir de um mesmo quadro diagnóstico. Atualmente,
é sabido, por experiência, que essa noção não é verdadeira. Ainda que
apresentem pareceres diagnósticos absolutamente iguais, duas pessoas podem
reagir às mesmas intervenções de maneiras diferentes. Isso porque o processo de
aprendizagem de cada pessoa é singular e depende diretamente da representação
que possui a respeito do que aprendeu. Reafirmando que somos seres individuais
e que um diagnóstico não nos define. Não há “receitas prontas”, na sala de aula
regular o professor também precisa conhecer o aluno e as características desta
deficiência para poder adequar o conteúdo.
Muitas
dicas importantes nos auxiliam neste processo como conhecer os alunos individualmente
a fim de buscar identificar meios de garantir a participação e a aprendizagem e
uma forma que tem dado bastante resultado é o trabalho colaborativo onde há a
participação direta dos envolvidos, quando a linguagem é próxima conseguimos
compreender melhor, esse sistema colaborativo faz com que o aluno que vai
explicar para o colega se auto organize a fim de dar sentido ao conteúdo para o
colega que tem mais dificuldade. É importante lembrar que flexibilizar o
currículo e diversificar as estratégias pedagógicas aumentam as possibilidades
de aprendizagem e que o aluno deficiente tem direito ao currículo integral.
A participação
do professor especialista do atendimento pedagógico especializado (APE) nesse
processo, pode ser determinante, considerando a função deste serviço, que,
segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva é
justamente identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de
acessibilidade para a eliminação das barreiras de aprendizagem potencializando
a participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas.
Então como
proceder quando não se tem em mãos um laudo médico que defina e oriente sobre a
deficiência do aluno?
Depende
de como se percebe o papel do diagnóstico no processo de inclusão educacional
desses estudantes. Se a educação inclusiva pressupõe não somente o
reconhecimento, mas a valorização das diferenças na escola e em sala de aula, entendendo
que cada um tem o direito de ser como é, portanto, aspectos relativos ao
diagnóstico dos alunos, assim como qualquer outra de suas características, não
devem ser neutralizados ou negados no contexto educacional. Além disso, conhecê-los
pode facilitar a identificação da necessidade de apoios como os da sala de
recursos.
Por
outro lado, o diagnóstico pode ainda hoje, representar uma barreira ao processo
de inclusão desses alunos. É bastante comum que professores ou outros
profissionais da escola justifiquem o próprio “não fazer”, usando-o como
pretexto, afirmando muitas vezes que não foi preparado para atender este
público ou mesmo que não é capaz.
A falta
de formação sobre a deficiência pode fazer com que limitem as oportunidades de
aprendizagem dos alunos, interpretando-o como atestado de incapacidade, ao
invés de apostar em suas possibilidades. É preciso tomar muito cuidado nesse
sentido.
Esses
fatores ficam mais fáceis de entender quando o professor compreende que a
dificuldade não está na pessoa e sim no ambiente, seu trabalho não pode ser
solitário tem que envolver a escola toda para a transformação do ambiente de
aprendizagem, já que o sentido de inclusão está no espaço que acolhe a todas as
diferenças e especificidades. Portanto o desconhecimento do diagnóstico não
inviabiliza a inclusão de nenhuma pessoa, qualquer que seja sua deficiência ou
característica.
Por fim, como
avaliar a aprendizagem destes alunos?
A
avaliação na perspectiva inclusiva é um processo contínuo e contextualizado
cuja referência deve ser a trajetória individual do estudante sem classificações
ou comparações. Assim como cada pessoa tem um modo diferente e até mesmo singular
de acessar e produzir conhecimento, tem, também, de expressá-lo. Por isso, é
necessário diversificar estratégias de avaliação para todos que dela se
beneficiam, considerando suas especificidades e suas necessidades, interesses,
conhecimentos prévios, estilos de aprendizagem, formas de expressar o
conhecimento e para isso o professor precisa conhecer o aluno.
O
trabalho articulado com a sala de recursos ou serviço de itinerância ajuda o
professor da escola regular a compreender melhor como diversificar as
estratégias e metodologias inserindo o aluno num ambiente rico e propício a
aquisição de conhecimentos.