O desafio de estimular as funções executivas no ambiente escolar
presencial e remoto.
Carina Zanini
As funções executivas são um conjunto de habilidades e capacidades que nos
permitem executar ações necessárias para atingir um objetivo. Nelas, estão a
identificação de metas, o planejamento de comportamentos para sua execução e o
monitoramento do desempenho até que a meta seja atingida. Essas funções
possibilitam nossa interação com o mundo e são essenciais para garantir o sucesso
tanto na escola, como no trabalho e nas atividades da vida cotidiana.
Tradicionalmente, atribui-se à escola a tarefa de desenvolver habilidades cognitivas,
mas em nosso sistema educativo atual não há foco nas funções executivas,
acreditando que o estudante desenvolverá por conta própria a capacidade de planejar
o seu tempo, priorizar informações, monitorar seu progresso e refletir sobre o resultado
do trabalho. Mas não é bem assim!
No modo socialmente estruturado de aprender e de aprender a aprender, os
professores esperam que os alunos sejam cada vez mais independentes e organizados
no seu desempenho, ao mesmo tempo em que os adolescentes vivenciam um período
de desenvolvimento no qual ocorrem alterações nas neuromodulações, no
processamento das emoções e da cognição social.
Como nos prova a neurociência, a área das funções executivas localizada no córtex
pré-frontal demora a amadurecer, geralmente até o início da vida adulta, mas para
muitos adolescentes, já há grande demanda para que se comuniquem em variados
contextos, para que administrem suas próprias tarefas e completem com sucesso
projetos muitas vezes abstratos e complicados.
Em sua maioria, os adolescentes têm dificuldade em integrar experiências emocionais
em padrões estáveis de comportamento e essa dificuldade em controlar um
comportamento impulsivo e/ou a falta de organização não constitui, por si, um “mau
comportamento”, mas sim uma disfunção executiva. Não compreender isso, pode levar
a “rotular” o adolescente de forma a produzir estigmas difíceis de serem desfeitos.
Esperamos que os jovens, no ambiente escolar, sejam capazes de organizar
criticamente as informações, de avaliar, generalizar, incorporar novos conceitos e que
possam debater novas ideias examinando as abordagens alternativas e tirando suas
conclusões. Mas, como auxiliá-los nisso?
Cabe a nós, educadores, a tarefa de identificar os processos executivos ao investigar
se o aluno apresenta dificuldades para estabelecer prioridades, organizar a rotina e o
calendário com prazos determinados, identificar objetivos, estabelecer metas, indicar o
início, as etapas de desenvolvimento e a conclusão do trabalho. Podemos também
auxiliar no controle e filtro das distrações, na inibição de respostas impulsivas e no
planejamento de metas de curto, médio e longo prazo.
Sabe-se que a melhor forma de auxiliar os adolescentes é incorporar o
desenvolvimento das funções executivas ao currículo e não fazê-lo de forma isolada.
As aulas e atividades remotas deste período de pandemia, trouxeram à tona a grande
importância dessas habilidades para o aprendizado e a necessidade de estímulo para
que não ocorram prejuízos intelectuais às nossas crianças e adolescentes.
Segundo Cosenza (2011,p.96), nossa civilização comete mais um equívoco ao descuidar
do desenvolvimento das funções executivas, o que pode comprometer o bem-estar e,
talvez, a sobrevivência das futuras gerações.
Quando compreendermos as funções executivas e incluirmos estratégias pedagógicas
com o objetivo de desenvolvê-las no ambiente escolar, estaremos contribuindo para a
formação de um indivíduo mais preparado para enfrentar as demandas complexas e
diversificadas da sociedade atual.
Carina Zanini
Professora na Rede Pública do Estado de São Paulo, com especialização em Práticas de Ensino de
Geografia, em Educação Inclusiva, cursando Neuropsicopedagogia.